A
Síndrome do ovário policístico (SOP) é classificada como um distúrbio
endócrino, bastante comum em idade reprodutiva. A referida síndrome
possui como características principais anormalidades menstruais,
hiperandrogenismo (YARAK et al., 2005), alterações da razão LH:FSH
(>2/3:1) e ovários policísticos (NAVES, 2010), conforme descritas na
postagem anterior.
Em
função da resistência à insulina e do hiperandrogenismo envolvido pode
haver o aumento da lipólise estimulada por catecolaminas no tecido
adiposo visceral. Por conseqüência, são liberados ácidos graxos livres
na corrente sanguínea, podendo alterar o perfil lipídico de VLDL,
triacilgliceróis, HDL e LDL (DIAMANTI-KANDARAKIS; PAPAVASSILIOU;
KANDARAKIS, 2007).
A
dieta das portadoras de SOP deverá ser individualizada, a fim de
garantir todos os nutrientes necessários ao bom funcionamento do
organismo, em especial para a melhoria do perfil insulinêmico, promoção
de perda de peso, nos casos necessários, bem como normalização das
concentrações séricas de lipoproteínas (LDL e triacilgliceróis, em
especial).
Marsh
e Brand-Miller no ano de 2005 afirmaram que o número de pesquisas com o
manejo da dieta na Síndrome do Ovário Policístico ainda era pequeno,
apesar do fato das modificações no estilo de vida, incluindo dieta,
exercícios e perda de peso ter apresentado benefícios na SOP.
Alguns
estudos constataram os benefícios da redução de peso de apenas 5 % do
peso total sobre a redução dos níveis de insulina; melhora da função
menstrual; redução dos níveis de testosterona, sintomas de hirsutismo
(presença excessiva de pêlos pelo corpo) e acne (PASQUALI et al., 2000; VAN DAM et al., 2002; CROSIGNANI et al., 2003; MORAN et al. 2003; GAMBINERI et al. 2004; MORAN et al. 2004; STAMETS et al. 2004 apud MARSH; BRAND-MILLER, 2005).
Moran
et al. (2003) em um estudo com mulheres com sobrepeso e com síndrome do
ovário policístico, avaliaram a intervenção dietética nas concentrações
de proteínas e carboidratos da dieta por 12 semanas com restrição
energética de aproximadamente 1.400 kcal (6000 Kj/dia) e 4 semanas de
manutenção do peso. Os participantes (n=28) foram divididos em dois
grupos, sendo o primeiro com dieta rica em proteínas composta por 40 %
de carboidratos e 30 % de proteínas e o segundo grupo de dieta baixa em
proteínas (normoprotéica) com 55 % de carboidratos e 15 % de proteínas.
Com a restrição energética, independente das concentrações de
macronutrientes da dieta, houve melhora do perfil lipídico, resistência à
insulina, redução do peso (7,5%) e gordura abdmoninal (12,5%) dos
participantes. A perda de peso gera melhoria dos parâmetros
cardiovasculares e reprodutivos, sendo esta perda relacionada
principalmente à influência da dieta sobre a resistência à insulina. A
perda de peso dos participantes do grupo da dieta hiperprotéica resultou
em menores benefícios endócrinos e metabólicos quando comparada ao
grupo com dieta normoprotéica (15%).
Fonte: NutriSaude
Kasim-Karakas, Cunningham e Tsodikov (2007) relatam que dietas
hiperprotéicas em mulheres pode estimular a produção de testosterona e
ser prejudicial, principalmente nas que tem susceptibilidade ao
desenvolvimento da SOP.
Segundo Marsh e Brand-Miller (2005) a perda de peso e o exercício
físico são alterações que promovem a melhora da resistência à insulina.
Porém, a modificação dietética, inclusive da qualidade, independente da
perda de peso, também podem influenciar diretamente na resistência à
insulina. Exemplo disso são os carboidratos de baixo índice glicêmico,
que devem fazer parte da dieta de indivíduos portadores de SOP. O
consumo diário de carboidratos com alto índice glicêmico promovem uma
excessiva liberação de insulina, intensificando a resistência desta.
Estudos em animais demonstram que uma dieta rica em gordura,
particularmente gordura saturada, pode levar à resistência à insulina.
Estudos em humanos são inconclusivos, possivelmente pela curta duração
das pesquisas, assim como pelas amostras reduzidas (RICCADI; RIVELLESE,
2000).
Uma
dieta pobre em gorduras e rica em fibras, caracterizada pela baixa
ingestão de produtos animais e alta ingestão de vegetais pode
influenciar na circulação enterohepática e reduzir os níveis hormonais
(NAVES, 2010).
A hiperinsulinemia está relacionada com a redução da síntese de Sex hormone-binding globulin (SHBG) no fígado, bem como das proteínas carreadoras dos fatores insulinóides (TEIXEIRA FILHO, 2002).
Consequentemente, haverá maior concentração de hormônios sexuais
livres, dificultando o transporte ao fígado para sua conversão a
metabólitos que possam ser excretáveis pelo sistema urinário e fecal,
após sua utilização nos órgãos alvos.
Compostos
bioativos e nutrientes que estejam envolvidos nos processos de
detoxificação do organismo, bem como, consigam modular os niveis
hormonais poderiam auxiliar no tratamento de mulheres com SOP. As
concentrações excessivas de hormônios na SOP também necessitam ser
biotransformadas, para viabilidade de excreção. Segundo Naves (2010)
nutrientes como magnésio, vitaminas do complexo B (B6, B12 e folato) são
cofatores de enzimas envolvidas na conjugação e metilação do processo
de detoxificação e importantes para o indivíduo com SOP.
Compostos
bioativos como curcumina (açafrão), indol-30-carbinol (brassicas) e
polifenóis da romã possuem propriedades detoxificantes, por atuar neste
sistema (NAVES, 2010) e intensificar a biotransformação das substâncias
que devam ser excretadas.
Alguns
alimentos como o mel e própolis, linhaça e romã possuem a habilidade
pela presença da crisina, lignanas e ácido elágico, respectivamente, de
inibir a aromatase (NAVES, 2010), enzima responsável pela transformação
da testosterona em estradiol, em função da elevada concentração de
testosterona livre na SOP. Estradiol em excesso pode ser prejudicial,
uma vez que este hormônio é um dos mais atuantes na multiplicação das
células mamárias, sendo associado ao desenvolvimento de neoplasias de
mama.
A
acne, um dos sintomas mais característicos da SOP, possui grande
associação com a carga insulinêmica dos alimentos e o consumo de
alimentos com alto índice insulinêmico (açúcar, carboidratos refinados,
leite, dentre outros), aumenta a produção de andrógenos, que estimula
IGF-1 (fator de crescimento insulina-símile 1), predispondo a maior
produção de sebo pelas glândulas sebáceas, sendo este um pré-requisito
para a “instalação” da acne (CORDAIN, 2005). Logo, o cuidado com a
alimentação, melhorando a resistência à insulina e priorizando alimentos
com baixa carga insulinênica podem auxiliar no tratamento das erupções
da pele.
Cuidados
com a hipercolesterolemia também tem sido enfatizados pelos estudos
científicos. Ressalta-se, portanto, a utilização das fibras, em
especial, a inserção de fibras solúveis na alimentação como farinha de
casca de maracujá, farinha de laranja, farinha de psillium, farinha e/ou
biomassa de banana verde, dentre outras fontes, ou mesmo mix de fibras
industrializadas. Associado a isto, a utilização de probióticos tem
contribuído na inibição da produção endógena de colesterol, em função da
fermentação dos prebióticos e produção de ácidos graxos de cadeia curta
(AGCC) (GUO; ZHANG, 2010), havendo outras hipóteses para essa redução,
que são bem definidas na Revisão “Cholesterol-lowering effects of probiotics” dos referidos autores.
A
avaliação da paciente deve contemplar um planejamento de dieta
individualizada, respeitando suas carências nutricionais e propondo uma
suplementação, caso haja necessidade, após o devido diagnóstico do
estado nutricional. Dessa forma, enfatiza-se aqui a importância do
nutricionista na equipe interdisciplinar para tratamento de indivíduos
com Síndrome do Ovário Policístico, sendo a dieta uma grande aliada na
melhora dos sintomas indesejáveis dessa Síndrome.
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