O útero é definitivamente um órgão incrível, ciclo a ciclo
se prepara para receber a nova vida concebida e a acolhe em seu leito
almofadado de sangue, o bebê se implantará e terá todo o suporte necessário
para crescer.
As modificações uterinas são drásticas, o peso do útero que
inicialmente é de 50-70g ao final da gestação poderá pesar até 1kg, a sua capacidade
volumétrica passará de 3-10ml para 4-5L, o miométrio que é a camada muscular do útero
crescerá em volume, aumento do número de células musculares e aumento do
calibre de artérias, veias e vasos linfáticos. Alterações elásticas nas fibras
musculares, permitirão ao miométrio essa capacidade impressionante de
resistência da parede uterina, ou seja, apesar de tornar-se fino é capaz de
suportar o bebê, a placenta, e o líquido amniótico.
Devido aos diferentes tipos de alterações que ocorrem nas fibras musculares do
útero, é possível observar que a espessura no fundo do útero é menor do que
ocorre no colo, além dos diferentes sentidos das fibras; enquanto no fundo do
útero concentra-se um músculo em forma de espiral (como uma mola), pois estas
características são necessárias para as contrações durante o trabalho do parto,
no colo, concentra-se fibras resistentes capazes de suportar a pressão
intra-uterina durante toda a gestação. Além do colo do útero estar fechado por uma barreira
protetora de muco, evitando a entrada de microorganismos para dentro do útero.
Além das modificações uterinas, todo o corpo feminino se
adaptará para manter a gestação, entre elas, mudanças no sistema circulatório,
respiratório, muscúlo-esquelético, endócrino, etc.
Mesmo diante da constatação desta realidade perfeita das
alterações morfológicas e fisiológicas que ocorrem no útero durante a gestação,
o que se observa nos dias atuais, principalmente no Brasil, é um aumento insano
do número de cesáreas, além da medicalizacão e instrumentalização desnecessária
do parto. Os fatores para tal realidade são inúmeros, porém cabe destacar que a
desmoralização do trabalho de parto e parto, como um evento que a mulher é
incapaz de passar física e psicologicamente, é
também fruto da degradação da feminilidade e da masculinização da mulher,
que tornou a fertilidade uma inimiga e por consequência a maternidade. Essa nova cultura não é fruto do acaso!
Desde a revolução sexual e a introdução da cultura da morte, da cultura da
infertilidade, as mulheres estão sendo bombardeadas com a mentalidade da
necessidade de medicalização da saúde, rompendo a relação harmoniosa com
o seu corpo e sua condição fértil.
Como justificar tantas cesáreas e intervenções
desnecessárias durante o trabalho de parto e parto? Por que a mulher aceita tão passivamente ser medicalizada em sua saúde? Este corpo que é capaz de
gerar e manter uma gestação de modo admirável é incapaz de
parir?