Monday, September 16, 2013

Aspectos Nutricionais na Síndrome do Ovário Policístico


A Síndrome do ovário policístico (SOP) é classificada como um distúrbio endócrino, bastante comum em idade reprodutiva. A referida síndrome possui como características principais anormalidades menstruais, hiperandrogenismo (YARAK et al., 2005), alterações da razão LH:FSH (>2/3:1)  e ovários policísticos (NAVES, 2010), conforme descritas na postagem anterior.
Em função da resistência à insulina e do hiperandrogenismo envolvido pode haver o aumento da lipólise estimulada por catecolaminas no tecido adiposo visceral. Por conseqüência, são liberados ácidos graxos livres na corrente sanguínea, podendo alterar o perfil lipídico de VLDL, triacilgliceróis, HDL e LDL (DIAMANTI-KANDARAKIS; PAPAVASSILIOU; KANDARAKIS, 2007).
A dieta das portadoras de SOP deverá ser individualizada, a fim de garantir todos os nutrientes necessários ao bom funcionamento do organismo, em especial para a melhoria do perfil insulinêmico, promoção de perda de peso, nos casos necessários, bem como normalização das concentrações séricas de lipoproteínas (LDL e triacilgliceróis, em especial).
Marsh e Brand-Miller no ano de 2005 afirmaram que o número de pesquisas com o manejo da dieta na Síndrome do Ovário Policístico ainda era pequeno, apesar do fato das modificações no estilo de vida, incluindo dieta, exercícios e perda de peso ter apresentado benefícios na SOP.
Alguns estudos constataram os benefícios da redução de peso de apenas 5 % do peso total sobre a redução dos níveis de insulina; melhora da função menstrual; redução dos níveis de testosterona, sintomas de hirsutismo (presença excessiva de pêlos pelo corpo)  e acne (PASQUALI et al., 2000; VAN DAM et al., 2002; CROSIGNANI et al., 2003; MORAN et al. 2003; GAMBINERI et al. 2004; MORAN et al. 2004; STAMETS et al. 2004 apud MARSH; BRAND-MILLER, 2005).
Moran et al. (2003) em um estudo com mulheres com sobrepeso e com síndrome do ovário policístico, avaliaram a intervenção dietética nas concentrações de proteínas e carboidratos da dieta por 12 semanas com restrição energética de aproximadamente 1.400 kcal (6000 Kj/dia) e 4 semanas de manutenção do peso. Os participantes (n=28) foram divididos em dois grupos, sendo o primeiro com dieta rica em proteínas composta por 40 % de carboidratos e 30 % de proteínas e o segundo grupo de dieta baixa em proteínas (normoprotéica) com 55 % de carboidratos e 15 % de proteínas. Com a restrição energética, independente das concentrações de macronutrientes da dieta, houve melhora do perfil lipídico, resistência à insulina,  redução do peso (7,5%) e gordura abdmoninal (12,5%) dos participantes. A perda de peso gera melhoria dos parâmetros cardiovasculares e reprodutivos, sendo esta perda relacionada principalmente à influência da dieta sobre a resistência à insulina. A perda de peso dos participantes do grupo da dieta hiperprotéica resultou em menores benefícios endócrinos e metabólicos quando comparada ao grupo com dieta normoprotéica (15%).
       Kasim-Karakas, Cunningham e Tsodikov (2007) relatam que dietas hiperprotéicas em mulheres pode estimular a produção de testosterona e ser prejudicial, principalmente nas que tem susceptibilidade ao desenvolvimento da SOP.
        Segundo Marsh e Brand-Miller (2005) a perda de peso e o exercício físico são alterações que promovem a melhora da resistência à insulina. Porém, a modificação dietética, inclusive da qualidade, independente da perda de peso, também podem influenciar diretamente na resistência à insulina. Exemplo disso são os carboidratos de baixo índice glicêmico, que devem fazer parte da dieta de indivíduos portadores de SOP. O consumo diário de carboidratos com alto índice glicêmico promovem uma excessiva liberação de insulina, intensificando a resistência desta.
       Estudos em animais demonstram que uma dieta rica em gordura, particularmente gordura saturada, pode levar à resistência à insulina. Estudos em humanos são inconclusivos, possivelmente pela curta duração das pesquisas, assim como pelas amostras reduzidas (RICCADI; RIVELLESE, 2000).
Uma dieta pobre em gorduras e rica em fibras, caracterizada pela baixa ingestão de produtos animais e alta ingestão de vegetais pode influenciar na circulação enterohepática e reduzir os níveis hormonais (NAVES, 2010).
     A hiperinsulinemia está relacionada com a redução da síntese de Sex hormone-binding globulin (SHBG) no fígado, bem como das proteínas carreadoras dos fatores insulinóides (TEIXEIRA FILHO, 2002). Consequentemente, haverá maior concentração de hormônios sexuais livres, dificultando o transporte ao fígado para sua conversão a metabólitos que possam ser excretáveis pelo sistema urinário e fecal, após sua utilização nos órgãos alvos.
Compostos bioativos e nutrientes que estejam envolvidos nos processos de detoxificação do organismo, bem como, consigam modular os niveis hormonais poderiam auxiliar no tratamento de mulheres com SOP. As concentrações excessivas de hormônios na SOP também necessitam ser biotransformadas, para viabilidade de excreção. Segundo Naves (2010) nutrientes como magnésio, vitaminas do complexo B (B6, B12 e folato) são cofatores de enzimas envolvidas na conjugação e metilação do processo de detoxificação e importantes para o indivíduo com SOP.
Compostos bioativos como curcumina (açafrão), indol-30-carbinol (brassicas) e polifenóis da romã possuem propriedades detoxificantes, por atuar neste sistema (NAVES, 2010) e intensificar a biotransformação das substâncias que devam ser excretadas.
Alguns alimentos como o mel e própolis, linhaça e romã possuem a habilidade pela presença da crisina, lignanas e ácido elágico, respectivamente, de inibir a aromatase (NAVES, 2010), enzima responsável pela transformação da testosterona em estradiol, em função da elevada concentração de testosterona livre na SOP. Estradiol em excesso pode ser prejudicial, uma vez que este hormônio é um dos mais atuantes na multiplicação das células mamárias, sendo associado ao desenvolvimento de neoplasias de mama.
A acne, um dos sintomas mais característicos da SOP, possui grande associação com a carga insulinêmica dos alimentos e o consumo de alimentos com alto índice insulinêmico (açúcar, carboidratos refinados, leite, dentre outros), aumenta a produção de andrógenos, que estimula IGF-1 (fator de crescimento insulina-símile 1), predispondo a maior produção de sebo pelas glândulas sebáceas, sendo este um pré-requisito para a “instalação” da acne (CORDAIN, 2005). Logo, o cuidado com a alimentação, melhorando a resistência à insulina e priorizando alimentos com baixa carga insulinênica podem auxiliar no tratamento das erupções da pele.
Cuidados com a hipercolesterolemia também tem sido enfatizados pelos estudos científicos. Ressalta-se, portanto, a utilização das fibras, em especial, a inserção de fibras solúveis na alimentação como farinha de casca de maracujá, farinha de laranja, farinha de psillium, farinha e/ou biomassa de banana verde, dentre outras fontes, ou mesmo mix de fibras industrializadas. Associado a isto, a utilização de probióticos tem contribuído na inibição da produção endógena de colesterol, em função da fermentação dos prebióticos e produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) (GUO; ZHANG, 2010), havendo outras hipóteses para essa redução, que são bem definidas na Revisão “Cholesterol-lowering effects of probiotics”  dos referidos autores. 
A avaliação da paciente deve contemplar um planejamento de dieta individualizada, respeitando suas carências nutricionais e propondo uma suplementação, caso haja necessidade, após o devido diagnóstico do estado nutricional. Dessa forma, enfatiza-se aqui a importância do nutricionista na equipe interdisciplinar para tratamento de indivíduos com Síndrome do Ovário Policístico, sendo a dieta uma grande aliada na melhora dos sintomas indesejáveis dessa Síndrome.



Fonte: NutriSaude
 

Thursday, September 12, 2013

Síndrome dos ovários policísticos



Uma alimentação adequada – rica em legumes, verduras e frutas e pobre em gorduras, açúcares e sódio –, aliada à realização de exercícios físicos – a Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza trinta minutos diários –, tem um papel preponderante na saúde feminina. Além de reduzir os riscos de doenças cardiovasculares, essas medidas também são essenciais no tratamento da síndrome dos ovários policísticos, condição que atinge até 10% das mulheres em idade reprodutiva em todo o mundo.
Caracterizada pela falta de ovulação e também pelo excesso de hormônios masculinos (principalmente a testosterona) no organismo, a doença tem sintomas decorrentes dessas duas disfunções. A mulher menstrua de forma irregular ou, em alguns casos, não menstrua, sendo essa a principal queixa que a leva ao consultório médico. Sem ovular, ela pode ter dificuldade para engravidar. A síndrome é responsável por 30% dos casos de infertilidade feminina.
Além disso, é comum apresentar excesso de pelos no corpo, alterações na pele – como aumento da oleosidade, espinhas e cravos – e ovários de volume aumentado por causa da presença de cistos na superfície desse órgão.
Outra característica importante da doença é o aumento de peso. “O sobrepeso é um sintoma, mas também uma causa”, destaca o Dr. Mariano Tamura, ginecologista do Einstein. “As alterações hormonais por si só podem levar ao sobrepeso, mas ele também pode estar relacionado à resistência de insulina e, dessa forma, levar à síndrome”, explica. As estimativas mundiais calculam que 50% das mulheres com síndrome dos ovários policísticos tenham sobrepeso ou obesidade, e o ganho de peso piora a condição da doença.


Cistos no ovário x síndrome

Quando um cisto aparece no ovário pode representar um tumor (benigno ou maligno), endometriose ou outros problemas, como a síndrome dos ovários policísticos. Porém, uma mulher cujo exame tenha identificado cistos no ovário não necessariamente terá a síndrome. “Algumas mulheres podem ter a síndrome dos ovários policísticos sem ter alterações no órgão. Nesse caso, ela tem todas as variações hormonais decorrentes da doença, menos o problema no ovário”, revela o Dr. Waldyr Oliva Filho, também ginecologista do Einstein. Da mesma forma “existem mulheres que apresentam cistos nos ovários, mas que não têm a síndrome” completa o Dr. Mariano.
O diagnóstico da síndrome é feito por meio de análise clínica (queixas da paciente com relação aos sintomas mais perceptíveis, como menstruação irregular e acnes) e também por exames de ultrassonografia e de sangue. Este último mede os níveis dos hormônios luteinizante (LH) e folículo estimulante (FSH), que atuam no amadurecimento dos folículos que contém os óvulos; de prolactina, hormônio que estimula a produção de leite e a ausência de menstruação; de testosterona, o hormônio masculino; e de estradiol, o hormônio feminino produzido pelos folículos ovarianos.
“É importante pedir também o exame de curva glicêmica e de resistência à insulina. Ambos devem ser investigados para identificar uma possível síndrome metabólica”, alerta o Dr. Waldyr. Quando o corpo não consegue utilizar de maneira eficiente a insulina produzida (a chamada resistência à insulina, principal característica da síndrome metabólica), descompensa todo o funcionamento hormonal e leva os ovários a um funcionamento errôneo, trazendo como consequência a síndrome dos ovários policísticos. Vale ressaltar que a síndrome metabólica aumenta também o risco de problemas cardiovasculares e do desenvolvimento de diabetes e de hipertensão arterial. 

Tratamento

Exercícios físicos e alimentação balanceada são dois valiosos aliados no tratamento da síndrome dos ovários policísticos, principalmente quando ela está ligada ao excesso de peso e à síndrome metabólica. Evitar gorduras e açúcares, além de abandonar o sedentarismo pode ser o caminho simples para a mulher recuperar a fertilidade. “Essa é uma das linhas de tratamento. A mudança no estilo de vida é capaz de reduzir a incidência da doença. A correção do peso contribui para a correção do metabolismo”, explica o Dr. Mariano.
Mas uma melhora na qualidade de vida pode não ser suficiente para muitas mulheres, que precisarão fazer uso de medicamentos. No caso daquelas que não pensam em engravidar, a pílula anticoncepcional é a opção mais prescrita. “Há uma melhora dos sintomas em curto prazo. Os ovários descansam, a oleosidade da pele diminui e a menstruação se normaliza. Além disso, o remédio regula o metabolismo hormonal e protege contra problemas futuros”, conclui o Dr. Mariano.
Mulheres com síndrome dos ovários policísticos têm risco aumentado para o desenvolvimento do câncer de endométrio porque pode haver um espessamento dessa região do útero em quem tem a doença. Os medicamentos, principalmente as pílulas anticoncepcionais, não permitem que isso aconteça.
Já para aquelas que estão tentando engravidar, o médico pode indicar um remédio para estimular a ovulação. Mulheres com resistência à insulina poderão fazer uso da metformina, que ajuda a corrigir distúrbios metabólicos envolvidos.
Porém, seja qual for a intenção, o acompanhamento médico é essencial. Logo após o diagnóstico as consultas devem ser semestrais. Com o passar do tempo, elas podem passar a ser anuais.


Fonte:Hospital Albert Einstein

PS: A pílula anticoncepcional é a opção mais prescrita o que não significa ser a opção mais saudável, seu uso deve ser criterioso.